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O pluridimensionalismo e o hermetismo metafórico

[e a poesia de Gilberto Mendonça Teles ]

por CARMELITA DE MELO ROSSI

 

A seguir, um breve fragmento do livro:

ROSSI, Carmelita de Melo. Uma leitura por Goiás: a A s(o)ciologia de Gilberto Mendonça Teles seguida de Pássaro de Pedra: uma metáfora viva.  Dissertação de mestrado apresentada ao Curso de Mestrado em Letras da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Goiás. Goiânia, GO: Ed. O X da Cultura, 2015. 174 p.  ISBN 978-85-400-1534-0  14x21 cm. “ Gilberto Mendonça Teles “   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

          Carone Neto referindo-se ao poeta alemão Georg Trakl diz que a poesia, embora consista de linguagem, produz efeitos que a linguagem comum não consegue produzir. Sendo assim, a conclusão mais óbvia é que ela é linguagem, mas manipulada de foram diferente. * Trata-se, pois, da obscuridade da linguagem já mencionada tantas vezes. A relação entre a palavra e a coisa ou entre o signo e o referente é posta de lado, isto é, acontece uma deformação do mundo através da linguagem ou conforme Carone Neto, ocorre uma desorganização da linguagem, o uso de uma outra modalidade de organização que passa a agir no lugar da convencional (inclusive da convencional literária) **. É através da violação dos padrões consagrados que a realidade surge transformada ou seja recriada. Esse processo de recriação da realidade, através da linguagem, motivando o hermetismo, aparece na obra de GMT envolvendo diversas nuances e intensidades com nos versos:

 

Lâmina de vidro

vertical fincada

no acontecerá.

                       [HA, p. 454.]

 

          A lírica moderna graças a sua capacidade metafórica fundamental de unir algo próximo com algo distante, desenvolveu as combinações mais desconcertantes, ao transformar um elemento que já é longínquo num absolutamente remoto, sem se importar com a exigência de uma viabilidade concreta ou, mesmo lógica:

 

fazendo peixe nas folhas

e nas pedras assoprando

um pensamento de amor.

                                    [HA, p. 479.]

 

 

          É por meio da metáfora que o poeta se individualiza como poeta, pois em toda metáfora já se encontra, efetivamente, um pouco da interpretação do mundo do poeta. Sua concepção de mundo precipita-se na metáfora. ***  

          Conforme Baudelaire para se penetrar a alma de um poeta, tem-se de procurar aquelas palavras que aparecem mais a miúdo em sua obra. A palavra delata qual é sua obsessão. Assim, as palavras pedra, rio, pássaro, peixe sombra, nuvem, final da tarde são para G. M. T. palavras-símbolos, pois, elas guardam, além dos vários sentidos que sugerem nos níveis linguístico, histórico e cultural, aqueles que estão recalcados no inconsciente e, por isso escapam à dimensão humana.

 

Primeiro se eternizam nos meus olhos

depois se reinventam, se revelam

serenas no seu verbo inusitado

                                             [HA, p. 448.]

 

 

         Essas pequenas, mas agora grandes coisas, porque introjetadas pelo poeta e, tomadas para sempre (eternizam), nada mais são do que imagens que se podem contemplar, mas são de tal forma que o olho humano nunca poderia encontrá-las. Daí: no seu verbo inusitado.


E cada qual me abrasa com seu lume,

sopra nos meus ouvidos seu mistério,

seu discurso de música e silêncio.

                                                [HA, p. 448.]

        Para Platão o poeta é um possuído. Seu delírio e entusiasmo são sinais da possessão demoníaca. Sócrates define o poeta como um ser alado, leve e sagrado, incapaz de produzir quando o entusiasmo não o arrasta e o faz sair de si ... não são os poetas que dizem coisas tão maravilhosas, mas os emissários da divindade que nos falam por sua boca," Baudelaire diz que o objetivo do poetar é chegar ao desconhecido, ou para dizer de outro modo: escrutar o invisível, ouvir o inaudivel.**** Com a estrofe citada acima o poeta admite ser tentado pela inspiração. A expressão: sopra nos meus ouvidos confirma essa afirmação. Porém, no verso seguinte ele diz: seu discurso de música e silêncio. Ao aproximar palavras de sentido oposto: música e silêncio, o poeta nos mostra que a vontade distorce a tessitura anímica desses signos e, tal desfiguração possibilita a dissonância: música e silêncio.

          Em outra estrofe encontramos:

 

                    Por isso é que me perco e me desnudo
                    desdobrando de mim em mil angústias
                    e pronto para o acaso que descubro
                    no desespero de viver e amar.
                                                                   [H.A., p. 448.]

 

          Diante das imagens dissonantes por ele criadas, o poeta busca as palavras para materializá-las no poema. Nessa busca, há a pera ea sua própria identidade — me perco e me desnudo — começou com Rimbaud a separação entre sujeito poético e sujeito empírico que se reencontrará, no presente, em Ezra Pound, em Saint-John Perse e que, por si só, já impediria de entendera a lírica moderna como expressão biográfica. ***** A palavra poética trabalhada, reinventada torna-se algo exclusivo do poeta, mas nem por isso deixa de ser do mundo. Essa outridade poética está contida sobretudo em desdobro de mim em mil angústias.  Essa ideia culmina nos versos: e pronto para o acaso que descubro/ no desespero de viver e de amar.

          Ao aproximar as palavras: acaso/desespero e angústias (no verso anterior) todas da mesma área semântica, o poeta reforça a ideia de transcendência da lírica moderna; essas ideias aparecem como que circundadas pelo verbo/pronto — ao mesmo tempo que o eu lírico se desdobra em mil angústias se sente pronto pra o acaso que descobre (identifica) no desespero de viver e de amar.

          A lírica de GMT embora refira-se sempre à primeira pessoa, não aponta para um eu egoísta, mas está sempre a oscilar entre o eu, o mundo e a arte. O poeta dizendo de si na projeção metafórica do eu-lírico, fala de todos, o que implica dizer que o poema precisa do outro para existir. 

*. CARONE NETO, Modesto. Metáfora e montagem.  São Paulo: Perspectiva, 1974., p. 31-32.     
**.     Cf. Op. cit. P. 33     
***.   Cf. op. cit. p. 39****.        PAZ, Otávio. O arco e a lira (1982), p. 195. ****.  FRIEDRICH, Hugo. Estrutura da lírica moderna. São Paulo: Duas Cidades, 1978, p. 62.
***** Cf. Op. cit. P. 69

 

 

 


 

 

 
 
 
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